quinta-feira, 13 de maio de 2010

Para recuperar público, CTGs de Bagé discutem abrir mão de trajes tradicionalistas

Para recuperar público, CTGs de Bagé discutem abrir mão de trajes tradicionalistas
Na maior parte dos eventos, a admissão de frequentadores com roupas variadas é permitida
Marina Lopes | marina.lopes@zerohora.com.br


Botas, bombachas e vestidos de prenda deixaram de ser unanimidade nos CTGs de Bagé, na Campanha, um dos principais redutos nativistas do Estado. Para lotar os salões e garantir a sobrevivência das entidades tradicionalistas, em vários locais a indumentária completa só é exigida em festas especiais.

Na maior parte dos eventos, a admissão de frequentadores com roupas variadas ilustra o dilema vivenciado pelo tradicionalismo em várias regiões do Estado entre a fidelidade às regras e a necessidade de atrair público.

O tema chegou a ser discutido em um seminário, em Bagé, por representantes de centros nativistas locais. Ainda que a maioria dos patrões, prendas e peões acredite que o uso da pilcha representa melhor o culto às tradições, considera mais importante manter as entidades abertas. Entre as razões apontadas para o mítico gaúcho de Bagé estar deixando a pilcha de lado estão a falta de dinheiro para comprar o traje completo e a influência do universo urbano.

Patrão por três vezes de um dos maiores CTGs de Bagé, o Campo Aberto, Sílvio Machado, hoje patrão de honra da entidade, acredita que o poder aquisitivo minguado explica a escassez de bombachas e vestidos nos bailes.

 As pessoas não andam pilchadas na rua sempre. Se compram, é só para o baile. Entre gastar dinheiro para comprar uma outra roupa, que aproveite mais, e a pilcha, que usa só no baile, ficam com a primeira opção? explica Machado.

Embora preferisse que o salão de bailes do CTG 93 estivesse repleto de prendas e peões tipicamente trajados, o patrão Mirabeau dos Santos sabe que a realidade é diferente e que é necessário se adaptar:

 É uma questão de sobrevivência. Exigimos só em bailes oficiais, que são dois por ano. Acho que o fator não é falta de dinheiro para pilcha, mas as pessoas viverem no meio urbano, onde não se costuma usar.

MTG admite a necessidade de tornar as regras mais flexíveis

Mas o tema desperta reações contrárias. Patrão do CTG Presilha do Pago da Vigia, Rui Rodrigues é contrário à entrada de pessoas não pilchadas em bailes tradicionalistas.

Somos entidades responsáveis pela manutenção da cultura como um todo. Usar a pilcha faz parte. Não há razão para liberar. Tem que ir aos bailes quem gosta das tradições gaúchas, e dançar pilchado é uma delas. Em bailes no Presilha, só entra quem estiver devidamente pilchado? determina.

O presidente do MTG, Oscar Gress, admite que em muitas áreas do Estado vem sendo necessário flexibilizar as regras para se adequar aos costumes locais ? preservando a pilcha em eventos mais formais.

Em outras, como na região missioneira, o traje típico ainda é mais comum. Gress argumenta que a entidade dá prioridade à conduta? dos frequentadores e à repressão a estilos considerados impróprios, como minissaias, decotes exagerados ou homens de brinco.

 Esse debate sobre o uso da pilcha já vem de tempo, mas não acho que tenha a ver com o custo. Sai até mais barato do que comprar outros tipos de calça e camisa ? afirma.

Para o doutor em história da Universidade de Passo Fundo, Tau Golin, a liberação em Bagé deve ser vista com naturalidade:

 A cidade está situada num local em que, independentemente de bota, vestido, lenço e camisa, as pessoas gostam de cultivar as tradições, ir a bailes tradicionalistas, independente de ser em CTG ou não. É natural que queiram ir sem pilcha, são gaúchos igual, observa.


O custo da tradição
Em média, uma prenda simples gastará:
Vestido R$ 450
Saia de armação R$ 80
Sapato R$ 60
Total R$ 590
Em média, um peão simples gastará:
Bota R$ 150
Lenço R$ 25
Bombacha R$ 70
Chapéu R$ 100
Camisa R$ 50
Cinto R$ 40
Total R$ 435
O traje tradicional
MULHER
O que prevêem as regras
- Cabelos
Semipresos ou em tranças, ornamentados com flores naturais ou artificiais, sem brilhos e purpurinas. A maquiagem é discreta.
- Vestido
Inteiro e de cintura baixa, com a barra da saia no peito do pé, de mangas longas, justas aos ombros, em cores discretas. Não usar preto nem em detalhes, tampouco combinações com as cores das bandeiras do Rio Grande do Sul e do Brasil. Não são permitidos tecidos transparentes, lurex e similares, rendão, brilhosos ou fosforescentes.
- Saia e blusa ou casaquinho
A barra da saia deve estar na altura do peito do pé. A blusa, ter mangas longas e justas nos ombros, com um pequeno decote em V, sem expor ombros e seios. O casaquinho também deve ser de mangas longas.
- Saia de armação
Leve, discreta e branca. Os babados devem evitar excesso de armação.
- Bombachinha e meia-calça
Bombachinha branca, de tecido leve, com enfeites de rendas discretas. O comprimento vai abaixo do joelho. Meias-calças longas, brancas ou beges.
- Sapatilhas
Pretas, marrons ou beges.
HOMEM
- Chapéu
De feltro. Pode ser com a copa alta arredondada e a aba curta, ou com a copa baixa e a aba larga, ambos com barbicacho.
- Camisa
De algodão ou linho lisos, gola ampla ou de padre, mangas longas, punho ajustado com cadarços ou botões. Não pode ter renda. Na frente, cadarços ou botões.
- Lenço
Os mais comuns são vermelho, branco, verde, azul e amarelo. Também há o lenço carijó, composto de uma mescla de cores. Preto, apenas em caso de luto.
- Guaiaca
Lisa, com uma ou duas fivelas, e de um a três bolsos.
- Bombacha
De brim (não jeans), sarja, linho, algodão, oxford ou microfibra, na cor marrom, bege, cinza, azul-marinho, verde-escuro ou branco. O uso de enfeites depende da tradição regional.
- Botas
De couro liso e modelo tradicional, nas cores preta, marrom escuro ou marrom avermelhado. É vetado o uso de botas brancas.


ZERO HORA

Matéria enviada por: Maria Angélica Jardim Fraga

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